Publicado no Correio Popular em 30/12/2018
Por Rogério Verzignasse
A Prefeitura de Campinas admite que as deficiências já constatadas nos viadutos de Campinas indicam necessidade de manutenção. E uma avaliação mais aprofundada pode servir de embasamento técnico para um projeto de recuperação das estruturas.
As informações fazem parte da resposta a um requerimento do vereador Nelson Hossri (Podemos) que – com base em reportagem do Correio Popular publicada no começo do mês – pediu explicações sobre o assunto.
Como em todas as oportunidades em que foi questionado, o poder público informou ao vereador que a manutenção é periódica e que, apesar das trincas e infiltrações, não há qualquer risco de colapso. Mas um trecho da reposta oficial desperta preocupação.
O documento, assinado pelo engenheiro Rubens Leme Júnior, da Secretaria Municipal de Infraestrutura, explica as inspeções de rotina são feitas por meio de imagens fotografadas, de pontos onde o acesso é possível, mas sem utilização de equipamentos especiais para medição e aferição.
Segundo nota oficial divulgada pela secretaria, questionada pela reportagem, a avaliação apenas visual dos viadutos é prevista pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A norma brasileira 9452 define os procedimentos. Quando se nota algo errado no visual, deve-se usar equipamentos especiais de averiguação.
Para o vereador, no entanto, é claro que a averiguação é deficiente. Com base nos recursos disponíveis em averiguações cotidianas, diz, a Prefeitura não tem embasamento técnico para dizer que não existe risco de colapso.
Rachaduras
Hossri fez questão de acompanhar a reportagem ao Viaduto Lix da Cunha, ao lado da Rodoviária, e mostrou rachaduras imensas. Ele ainda lembrou da situação dos viadutos Laurão e Miguel Vicente Cury, exemplos de manutenção supostamente precária, com ferragens à mostra, defensas arrebentadas, pichações e infiltração.
“Normal”
A secretaria, no entanto, explica que as fissuras são notadas onde estão as juntas de dilatação em viadutos, que são projetados dessa forma para absorver a movimentação da estrutura e a dilatação térmica. Não seriam trincas, efetivamente.
Os serviços de zeladoria dos viadutos, como tapa-buracos, recapeamento e reparos pontuais em guard-rail são feitos, trimestralmente, pelas equipes da Secretaria de Serviços Públicos, segundo a nota oficial.
A denúncia
A matéria que levou o vereador a fazer o requerimento foi publicada pelo Correio no dia 2 de dezembro.
Naquele dia, o engenheiro civil Gil Chinellato, especialista em estruturas, disponibilizou à reportagem imagens preocupantes do Viaduto São Paulo – o Laurão – elevado da Avenida Moraes Salles sobre a Norte-Sul.
Gil, que mantém escritório na cidade há 32 anos, tinha sido contratado para fazer a avaliação estrutural de um edifício de apartamentos. O prédio apresentava diversas fissuras, possivelmente decorrentes do trânsito intenso no viaduto.
Por conta própria, ele resolveu averiguar as condições estruturais do elevado e se assustou com o que viu. Por conta própria, ele circulou pelos outros viadutos da região central e encontrou deficiências semelhantes.
Longe de fazer alarde, Gil disse que confia na avaliação técnica da Prefeitura, de que não existe nenhum risco de desabamento ou algo parecido. Mas ele alerta que as deficiências pontuais, se não tiverem a atenção adequada, podem sim ocasionar problemas mais sérios no futuro.
Na Capital. prejuízo foi milionário
A preocupação da comunidade com a manutenção dos viadutos de Campinas se tornou maior desde meados de novembro, quando um viaduto de 40 anos cedeu na Marginal Pinheiros. A Prefeitura foi obrigada a investir pesado na recuperação da estrutura, com a utilização de equipamentos hidráulicos caríssimos. A reforma foi orçada em nada menos que R$ 30 milhões, simplesmente cinco vezes mais do que o poder público investiu em manutenção dos viadutos da cidade desde 2014. E as obras deixaram o trânsito muito complicado naquele ponto. Ficou claro, no caso de São Paulo, que a redução dos investimentos públicos na prevenção provoca prejuízo certo no futuro.